CONHECE O CAFÉ DO ZÉ? - por Sandra Schamas


Criado no meio dos cafezais, conhece tudo sobre o fruto. Sabe plantar, colher, secar, torrar e moer os grãos. É capaz de fazer a alquimia perfeita que só os que conseguem ver a nobreza de sua alma têm o privilégio de degustar.
É um café bem chinfrim. Tem, no máximo, 12 metros quadrados. Uma boa máquina italiana, uma estufa com salgados, um forninho para pão de queijo e misto quente, uma velha geladeirinha Cônsul (caso algum frequentador assíduo peça uma cerveja), três ou quatro mesinhas de ferro, uma prateleira com uma coleção de xícaras empoeiradas, as favoritas do dono. Zé é um cara simpático, observador, conversa sempre na medida certa. O pedacinho de chão, que ocupa parte do passeio público, é uma extensão dele próprio.
Sobre seu passado, quase nada se sabe. Parece que era neto ou bisneto de escrava. Sua mãe nascera em uma grande fazenda de café e fora adotada pelos fazendeiros. Morreu cedo, a coitada. Zé trabalhou com a família até a maioridade, depois teve de se sustentar e nem se lembra do tempo em que não trabalhou. Chegou até a receber de herança de seu pai, filho do dono da fazenda, um sobradinho antigo, que ele aluga a parte de cima e guarda o dinheiro. Onde seria a garagem, funciona seu café. Mora num quarto de pensão, acha mais fácil.
Criado no meio dos cafezais, conhece tudo sobre o fruto. Sabe plantar, colher, secar, torrar e moer os grãos. É capaz de fazer a alquimia perfeita que só os que conseguem ver a nobreza de sua alma têm o privilégio de degustar.
Digamos que Zé é básico, sem grandes ambições, nem preocupações, sem filhos para criar, nem mulher para sustentar. Talvez, justamente por isso, transmita uma paz invejada. Quem vai lá sempre volta.
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