CAFÉ DO ZÉ PARTE 2


Bem devagar, com a certeza de que conseguiria, suspendeu e virou o trinco. A porta abriu. Não era o banheiro mas mesmo assim ele entrou...
Entrou. Uma privada sem acento, descarga de cordinha, pia mínima com a torneira pingando, um ralo antigo e uma porta baixa que dava na cintura do Zé e estava fechada com um trico muito vagabundo. Zé fez xixi, lavou a mão só com água e sacudiu os braços. Não tinha toalha nem papel de nenhum tipo.
Quando viu a portinha, não resistiu e abriu. Era um corredor baixo também, e meio escuro. Ele se abaixou e entrou. Não dava para ficar completamente em pé, teve que andar com o corpo dobrado e segurando nas paredes mal acabadas e úmidas. Curiosidade mata, pensou ele, mas não desistiu. Sentiu cheio de mofo, de terra, de plantas em decomposição, percebeu que o chão se inclinava cada vez mais e que havia uma saída, pois um faixo de luz entrava iluminando o buraco. Era horrível, sujo deteriorado, só que agora que tinha chegado até ali, ele não ia voltar.
Zé se deparou com um portãozinho, viu que havia uma corrente e um cadeado para o lado de fora. Ferrou, disse ele alto. Será que eu vou ter que voltar? Ah, não vou voltar mesmo, quero ver onde isso aí vai dar. Enfiou as mãos pela grade e viu que o cadeado não estava trancado. Abriu, puxou a corrente e empurrou o portão. Quando endireitou o corpo sentiu uma puta dor nas costas. Enquanto alongava o corpo viu que estava dentro de um quintalzinho, sem saída. Devia ter uns cinco metros quadrados, o muro estava todo coberto de hera, cheio de rachaduras de onde saíam samambaias viçosas. Havia mato no chão e dava para ouvir o zunido de insetos.
Zé se aproximou do muro e começou a tatear para ver se havia alguma saída. Fez isso em uma parede, depois na outra e parou. Quando virou com as mãos na cintura, levou o maior susto. Caramba! Confinados com ele naquele estranho espaço estavam D. Samira, o biólogo, as duas, a deprimida, a velha com o gato, o casal que transou no banheiro, o menino todo molhado, e executivo com a gótica cheia de piercings e a tia gorda de camisola, bem ali, de pézinha, e rindo e acenando para ele.
Putaqueopariu, onde eu fui me enfiar... A tia, que ele nem sabia se era tia dele mesmo tinha morrido, porra!
Socorro!
Socorro!
Me tira daqui...
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