Bem mais magro, com olheiras roxas e o cabelo crescido, sentia-se fraco ainda. Pensava e falava mais devagar, sentia a voz prejudicada; não tinha muita noção do tempo e quando perguntavam sobre os dias na UTI, ele dizia que não se lembrava muito, às vezes ouvia as conversas dos médicos e enfermeiros, tinha noção de que seu estado era muito grave. Às vezes achava que ia acordar, mas logo entrava em um limbo. Não sentia dor, não sentia medo, nada. O desespero maior foi quando pediu ajuda e ninguém ouviu. Credo, não desejava para ninguém o que tinha passado.

Agora, em casa, com todos os mimos de Faustina, se recuperava bem. Seus olhos brilhavam quando Vera Cecília chegava. Ficava emocionado só de pensar que nunca mais ela ia querer nada com ele. Sentia-se um trapo.  Era um jogador sem eira nem beira, nem a faculdade havia terminado e, no final das contas era um simples vendedor de loja. Muito educado, muito elegante, mas apenas um vendedor. Tudo bem, tinha sido promovido a gerente. estava longe de ser quem elesonhou ser um dia. Todo lascado, fraco, cardíaco, teria de começar tudo de novo. De novo. Entretanto, ele havia reparado algo diferente em Vera Cecília. Continuava boazuda, cintura fina, quadris largos, pernas grossas, mas havia adquirido um ar confiante, uma segurança no andar. Afinal, estava bem profissionalmente, e essa independência a deixava mais mulher. Gostosa. Quando será que ele poderia voltar fazer sexo e, pior, será que ela ia querer? Daria conta? Essa era sua preocupação.

Certa noite Vera Cecília chegou com flores, vinha com seus pais que traziam revistas, bombons e vários pacotes da padaria, umas coisinhas gostosas para o lanche, disseram. Um calor dos infernos, a janela do apartamento aberta,  todo mundo se abanando. Apesar de tudo, a felicidade preenchia a falta de móveis e de detalhes no ambiente. Estar com quem a gente gosta, simples assim. Como uma coisa banal, um lanche de sábado à noite, podia ser algo tão reconfortante? Faustina foi logo passar um café.