23-  Mesmo sem ter onde ficar, Faustina não saía do hosputal, sentava um pouco em uma cadeira dura, descia para dar uma volta na rua, comia qualquer coisa que os ambulantes tinham para oferecer. Nas horas de visita ficava o tempo todo de pé ao lado do seu filho mais novo, agora ali como um vegetal. Um moço tão bonito dizia ela, com a vida pela frente. 

Depois da visita da tarde, ia para casa. Exausta, tomava um banho, assistia a qualquer coisa na televisão e acabava dormindo no sofá. Como Paulo Eduardo fazia falta!

Nondas ia ver o irmão quase todos os dias e Vera Cecília não conseguia ir. Na primeira semana, ficou enrolando. Na verdade, estava com medo que ele morresse, ou que acordasse de repente e não se lembrasse de nada. Além do mais, sabia que ficaria impressionada.

No fim de semana criou coragem e foi no primeiro horário de visita do sábado. Faustina ainda não havia chegado, a enfermeira avisou que ela poderia entrar, o leito dele era o número sete . Agarrando a bolsa com os dois braços em frente ao peito, Vera foi entrando pé ante pé, conferindo os números. Sete. Lá estava ele.

Aproximou-se e ficou parada ao lado da cama por um bom tempo. Só ouvia som das máquinas e, ao longe, a voz sussurrada dos profissionais. O rosto de Paulo Eduardo estava macilento, sda sua boaca saía um tubo e, no canto, saliva ressecada. O cabelo penteada, mas grudado na cabeça, o rosto limpo , mas a barba crescida. Os braços estendidos ao longo do corpo estavm inertes.

Estática ao lado dele, naquela situação dramática, ela entendeu que aquele homem era o amor de sua vida. Depois que ele acordasse, e tinha certeza que seria logo, ela iria fazer de tudo para construirem juntos uma vida juntos.

As lágrimas corriam pelo rosto, mas ela nem se dava ao trabalho de enxugar. Encostou seu rosto molhado no dele e, sussurando declarou todo seu amor. 

Paulão, acorda logo que nós precisamos ser felizes. Eu te amo. Eu te amo...